quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Duas Cabeças

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Havia um animalzinho que parecia uma esfinge - até então, eu via apenas a sombra dele - em cima da secadora da área, que dá pra janela do box do banheiro, que é de vidro ondulado (não sei o nome), permitindo apenas a entrada da luz e não uma visão 100% do outro lado. 

O esboço tinha duas cabeças, quatro patas e duas asas de morcego. As duas cabeças, no esboço que eu via pela janela, pareciam ser de pessoa, com cabelo black-power...

Todos os dias eu conversava com a tal criatura, que tinha uma voz feminina. Eu sentava no banco do banheiro e desabafava pro bicho, que sempre conversou comigo numa boa. Até que meu pai começou a ficar preocupado, já que o tal coiso não saía dali, logo, não comia nem bebia água. Mandou eu ir pegar pra dar comida, porque ele não estava indo embora então devia estar fraco.

Eu fiquei com medo. Morrendo de medo. Era meu amigo, mas e se eu visse algo que eu não gostaria de ver? Ou algo que me deixasse assustada? Eu ia chatear meu amigo. Ou amiga. 
Mas lá fui eu. 
Não acendi a luz da área pra não ter que ver detalhes sórdidos possivelmente horrorosos. Peguei o banco do banheiro, subi, peguei a criatura pelo tórax e, sem olhar, botei no chão da cozinha, na frente de um prato de ração. Lembro de achar o pêlo do corpo muito macio e gostoso.

Quando tomei coragem pra olhar, as duas cabeças eram cabeças de cachorro, ou algo assim, o que claramente me deixou confusa, mas acabei achando o meu amigo - ou amiga - bonitinho. Ele estava magérrimo, dava pra ver as costelas de uma forma que parecia que ele iria quebrar se ficasse mais tempo em pé - no caso, ele estava sentado enquanto comia.

As asas estavam quase atrofiando, pela falta de praticar o vôo. Então decidimos cuidar dele. 

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